Sala Polivalente, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
07
Janeiro
15h00
O espírito de Salazar e o Racionalismo Cristão na colónia portuguesa do Rio de Janeiro dos anos 1960
Seminário
No âmbito do ciclo de Seminários de Estudos Pós-graduados do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL) no próximo dia 7 de Janeiro de 2011 realiza-se um Seminário de Antropologia dedicado ao tema "O espírito de Salazar e o Racionalismo Cristão na colónia portuguesa do Rio de Janeiro dos anos 1960", com João Vasconcelos, investigador e professor do Programa de Mestrado e Doutoramento em Antropologia Social e Cultural do ICS-UL que tem trabalhado no domínio da antropologia da religião sobre espiritismo luso-brasileiro em Cabo Verde, racionalismo cristão, mediunidade e relações de género, entre outras questões.
APRESENTAÇÃO
«Na manhã de 27 de Julho de 1970 morreu o ditador António de Oliveira Salazar, doente e afastado do poder desde Agosto de 1968. Naquela mesma segunda-feira, o seu espírito manifestou-se ao fim da tarde num centro espírita brasileiro, o Centro Redentor do Rio de Janeiro.
O Centro Redentor fora fundado em 1912 pelo comendador Luiz de Mattos. Nascido em Trás-os-Montes em 1860 e radicado no Brasil desde os treze anos de idade, Luiz de Mattos pertencia a uma geração na qual emigravam para o Brasil sobretudo jovens do Norte de Portugal de casas razoavelmente abastadas e com redes familiares e de patrícios estabelecidas nas principais cidades portuárias, que os acolhiam e encarrilavam no meio dos negócios. Estes portugueses do Brasil cultivavam um espírito de colónia e mantinham fortes relações económicas e sentimentais com a terra natal.
No Centro Redentor, Luiz de Mattos elaborou uma doutrina dissidente do espiritismo kardecista, que viria a designar-se racionalismo cristão. O grosso dos militantes e dos frequentadores do Centro Redentor do Rio pertencia à colónia portuguesa da cidade.
Quando Luiz de Mattos morreu, em 1926, o seu espírito manifestou-se numa sessão para designar como sucessor, presidente vitalício do racionalismo cristão, o seu jovem genro António Cottas, também ele transmontano e comerciante, embora de origens mais modestas que as do sogro. António Cottas dirigiu o Centro Redentor até 1983, ano em que morreu. Era por isso Cottas, então com 77 anos e já agraciado com um título de comendador, quem presidia a sessão de limpeza psíquica de 27 de Julho de 1970 na qual o espírito de Salazar se manifestou através de uma médium.
Esta palestra toma como ponto de partida o diálogo havido nessa sessão entre António Cottas e o espírito de Salazar e procura contextualizá-lo no seu tempo e no seu lugar. O meu propósito com este exercício é duplo. Primeiro, pretendo expor e analisar a forma como um sector da colónia lusa do Rio de Janeiro foi digerindo à distância e integrando no seu quadro de referências culturais e ideológicas as mudanças políticas e sociais ocorridas em Portugal com a implantação da República e, depois, com o salazarismo. Em segundo lugar, pretendo demonstrar que o lusitanismo (definido por Luiz de Mattos como a crença de que “à raça lusa cabe algo mais do que às outras”) e a tradição sebastianista (sobretudo a subsequente à leitura que dela fez o padre António Vieira) constituíram ingredientes culturais que definiram durante décadas a feição do racionalismo cristão e que contribuíram para que este se demarcasse da sua raiz doutrinária principal, o kardecismo francês aclimatado à sociedade brasileira.»
Informação disponível no sítio do Instituto de Ciências Sociais.
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