UM CONTRIBUTO PARA UMA DOUTRINA DE CIDADANIA
SOCIAL
PARA PORTUGAL
Sampaio Bruno foi sem dúvida um notável e singular
pensador português. A sua obra não se limitou ao campo da filosofia, da
literatura ou da história, tendo dominado todas essas importantes áreas do
pensamento humano, mas com a particularidade em não se ter prendido em nenhuma!
A sua meditação constituiu sempre uma tentativa libertária de saber místico,
alicerçado em fontes gnósticas e da Cabala especulativa. Por outro lado, a obra
do eminente pensador reflete um momento histórico particularmente rico da
história portuguesa o da propaganda republicana e da instauração da República
que Sampaio Bruno saudou entusiasticamente no início, tendo-se vindo a
desiludir posteriormente face a diversas ocorrências verificadas nas novas
instituições que vieram a substituir a gasta monarquia lusitana.
Perante um absolutismo monárquico.
Este ilustre português cresceu num meio dominado pelas
ideias liberais. A cidade do Porto sempre se singularizou pela sua forte
empatia pelo Liberalismo e daí a razão da malograda“ Revolta Republicana de 31
Janeiro de 1891” tendo Sampaio Bruno nela participado e se viesse a viver agora
no Século XXI e face a um Portugal e a uma União Europeia neoliberais não
teríamos quaisquer dúvidas que perante este mesmo neoliberalismo Sampaio Bruno
compreenderia de imediato que o seu liberalismo totalmente virado para o bem estar e progresso sociais do ser humano,
agora, no Século XXI transformou-se em algo desumano e apenas virado para a
obtenção do lucro fácil, imediato e voraz não viria a hesitar em bater-se por uma
nova doutrina política que efetivamente defendesse o cidadão comum! Sampaio
Bruno diz-nos que nos momentos de crise nacional as elites culpam o povo, mas
as culpadas são elas por não terem inculcado naquele um processo pedagógico que
hoje chamaríamos de “educação para a cidadania”. Sampaio Bruno igualmente escreveu:-
“ Portugal sofre de um excesso de governo por persistir um tipo de centralismo
de governação que de forma centrípeta suga a vida social e a atividade política
da nação e entrega o poder não aos mais aptos, mas aos mais inescrupulosos e
oportunistas”. Infelizmente esta é a triste realidade no Portugal de hoje!
A Metafísica não está ultrapassada pela Ciência.
Numa outra
perspetiva Sampaio Bruno afirmou que a metafísica não estava ultrapassada pela
ciência e a metafísica por si defendida devia de ser moderna mantendo um
diálogo constante com a ciência. Sampaio Bruno na verdade veio a converter-se
ao evolucionismo espiritualista de inspiração gnóstica e cabalística e agora no
Século XXI podemos estar em condições de fazer uma nova interpretação de forma
racional e científica sobre o pensamento bruniano na projeção de um novo
paradigma que pela sua configuração nos poderá conduzir ao conhecimento da
existência da vida espiritual materializada pelo princípio das vidas sucessivas
ou reencarnações ou seja: no plano físico a transformação da matéria (corpo) e
no plano metafísico a evolução da Força (espírito) e eis pois, o novo paradigma
científico/espiritual que Sampaio Bruno concepcionalmente pretenderia
vislumbrar”
O pensamento
bruniano seguia “Ipso facto” as diferentes correntes compreendidas pelo
positivismo de Auguste Comte; o evolucionismo de Herbert Spencer e o economismo
de Karl Marx. Sampaio Bruno não refuta o positivismo, corrige a lei dos três
estados de Comte e aceitando a classificação das ciências; não rejeita nem
aplaude o marxismo, apresenta-o simplesmente, não deixando porém, de o analisar
e de o aplicar no modo, exclusivamente economicista. O esquema traçado na
respetiva obra, o “encoberto” é para Sampaio Bruno o “reino de Deus” por fim
revelado na república dos homens, o que por vicissitude histórica a ideia do
“encoberto” assumiu-se entre nós, portugueses, incorporada no anúncio do
regresso do rei D. Sebastião que viria a estender pelo mundo o Reino já fundado
por Cristo tal como pensou o nosso Padre António Vieira – a ideia do Quinto
Império igualmente defendida por Fernando Pessoa e Agostinho da Silva!
O Paradigma Científico/Espiritual.
O paradigma idealista que Sampaio Bruno pretenderia
defender foi uma manifestação única no pensamento filosófico português! E daí e
agora no Século XXI esse mesmo pensamento ideológico poder ser interpretado em diferentes
perspetivas, desdobramentos ou desenvolvimentos passando por princípios
fundamentais sobre a realidade do Homem e do Universo! Tal como num passado
histórico já distante se pensou na existência de um deus único e que está
traduzido no monoteísmo. Agora e no presente também igualmente o conhecimento
humano pode levar as novas sociedades a estabelecerem uma diferente e mais
avançada plataforma de vivência e perspetivas sociais. Por outras palavras: -
poderíamos admitir poder ser criada uma nova ideologia que viesse ao encontro
da realidade material e espiritual da existência humana materializada numa única
doutrina que seria efetivamente o binómio ciência/espiritualidade e que poderia
vir a transformar-se num novo espiritualismo evolutivo, mas agora de base
racional e científica que seria na sua essência profundo, vasto e eclético!
Sampaio Bruno e o Liberalismo.
Sampaio Bruno pretendia que a condução
político/partidária em Portugal viesse a assumir novas formas de atuação, onde
e em consonância com as condições estruturais e conjunturais de Portugal na sua
época face a uma monarquia que fora absolutista e que apesar de passar a
constitucionalista não deixou de ser inimiga do progresso social e económico, o
que perante o olhar penetrante e profundo de Sampaio Bruno o Liberalismo
assumia-se como a mais forte expressão da liberdade cívica do cidadão comum e
daí o ter-se batido de forma enérgica e esforçada contra uma monarquia
completamente ultrapassada!
O título desta minha intervenção que é precisamente
“Sampaio Bruno e o Portugal de hoje” é tentar fazer uma ligação e
consequentemente um desdobramento do pensamento bruniano à realidade atual de
Portugal, situando as realidades sociais, económicas e políticas dos
portugueses e adaptando-as a esse mesmo pensamento. Essas mesmas realidades
passam principalmente pela análise histórica do sindicalismo; do cooperativismo;
do municipalismo; pela ecologia e finalmente pela democracia direta ou
participativa como sendo os futuros e necessários pilares para a formação de um
novo tipo de sociedade onde o elemento humano será sempre o factor central e determinante.
O Sindicalismo Português é a via natural para o
desenvolvimento do Cooperativismo.
Teremos de reconhecer de que o sindicalismo português
no presente tem urgente necessidade em imprimir uma nova dinâmica face ao
desenvolvimento social, político e económico dos tempos atuais e essa mesma
dinâmica passa pela aplicação prática da doutrina cooperativista! Podemos
afirmar que na realidade o verdadeiro motor da economia fundamenta-se no
trabalho e ação do trabalhador que tem nas suas mãos o verdadeiro poder económico
face à sua força de trabalho, ao seu conhecimento e experiência e daí a razão
da necessidade imperiosa da sua reorganização emancipadora pela via do
cooperativismo e que já liberto da “ganância do lucro” poderá o trabalhador vir
a construir novas condições de vida, de progresso e de estabilidade e onde a
economia social virá a ser uma sólida realidade!
Assim, o movimento sindicalista português deverá
chamar a si uma inovadora estratégia criando as necessárias condições para uma
mais completa formação pedagógica, técnica e tecnológica dando ao povo
trabalhador a possibilidade de formar as suas próprias empresas cooperativas e
daí conseguir-se a desejada independência, libertando-o definitivamente da
exploração do capitalismo retrógrado e ganancioso! Eis, pois uma razão
fundamental que justificará plenamente uma reformulação da própria Constituição
da República Portuguesa introduzindo um novo regime político onde o sector
privado deverá ser adaptado a uma real, coerente e objetiva economia social e desenvolvendo
estrategicamente os setores cooperativo e público dotando-os com modelos mais
adequados em favor de um verdadeiro e natural progresso e bem-estar sociais do
Povo Português.
E aqui surge a necessidade da criação de um novo
movimento cívico/laboral que aliado ao cooperativismo a que chamaríamos de
Sindicalismo Cooperativo poderia ir ao encontro dos grandes problemas com que
os trabalhadores em geral estão enfrentando no presente e com crescente
agravamento quanto ao futuro!
É fascinante observar esse imenso laboratório que é o
planeta Terra, onde uma infinidade de experiências vai sendo realizada a um
nível simplesmente incrível! E todos esses múltiplos acontecimentos que se vão
desenrolando no dia-a-dia ou a todos os instantes das nossas curtas vidas
físicas!
Atualmente na
Europa está ocorrendo uma crescente desacreditação dos partidos políticos e
simultaneamente a degradação desses mesmos partidos políticos e o exemplo
flagrante disso situa-se na tremenda queda da antiga União Soviética e o estrondoso
fracasso do Comunismo e se a queda do Comunismo foi má então a derrocada do
Capitalismo será dramática perante uma onda infernal de fundamentalismos que
estão afetando importantes regiões do planeta e que se vão infiltrando através
de “quintas colunas” em diferentes países do Ocidente. O cidadão comum
coletivamente representa muito mais de dois terços da população mundial e só um
número muito restrito de indivíduos a nível planetário controlam, dominam e
exploram em seu exclusivo proveito os recursos e energias da maioria dos países
existentes no mundo. Eis, pois, urgente que os trabalhadores representados
pelos seus Sindicatos se unam numa “frente comum” juntando a sua experiência e
conhecimentos técnicos, criando novas estruturas sociais e fabris que façam
frente à monstruosa máquina do neocapitalismo, defrontando-a com adequadas armas
que os recursos materiais e o trabalho e engenho humanos unidos poderão
desenvolver.
As diferentes fases da iniciação do ser humano.
Nada de novo foi inventado e o ser humano de forma
sábia e consciente compreende e segue de forma racional e progressiva as lições
e os exemplos extraordinários que a Natureza através das suas leis tem vindo a
imprimir desde a formação do planeta e dessa mesma ação surgiu a manifestação
multidiferenciada da vida orgânica e inorgânica na Terra. No caso específico do
ser humano ao nascer neste mundo físico vai naturalmente ser submetido a uma
iniciação adequada à sua formação e desenvolvimento estando sujeito às quatro
fases vivenciais que compreendem em sentido evolutivo a infância; a juventude;
a maturidade e finalmente a velhice, o que surpreendentemente poderemos
comparar na respetiva ordem natural à Primavera; ao Verão; ao Outono e ao
Inverno!
Todas as fases de iniciação por que passam os seres
humanos compreendem sempre a sua formação e desenvolvimento físico psíquico e
espiritual. Na realidade e no que se refere a uma possível e nova figura
institucional do partido político poderemos igualmente considerar que o
respetivo militante terá de passar sempre por uma fase de iniciação de ordem
cívica, política e de militância e assim no campo cívico/moral o iniciado
militante deve assimilar e praticar os quatro princípios da sua iniciação que é
a Sobriedade; a Solidariedade; a Cooperação e finalmente a Espiritualidade,
sendo este último princípio correspondente ao Inverno da vida do ser humano –
estação da vida onde aquele atinge a plenitude do seu desenvolvimento
intelectual e espiritual. Eis, pois uma boa conclusão ao seguirmos o exemplo da
Mãe Natureza, aplicando a mesma orientação seguida por aquela num novo modelo
ou figura institucional de um novo partido político, inspirado na História,
Cultura do respetivo país e inspirando-se no caso de Portugal na sua histórica
e nobre Ordem Religiosa Militar de Cristo, restaurando o seu espírito e
insuflando-o nas mentes dos jovens portugueses, desenvolvendo o seu amor-pátrio
e mobilizando-os numa causa superior da Nação!
A Nova Doutrina do Quinto Império.
A nova doutrina do “Quinto Império” que propomos no
nosso livro – “Ensaio Sobre a Doutrina do Quinto Império – Uma Nova Perspetiva
Social”, assenta no binómio ciência/espiritualidade e dentro deste mesmo
“binómio” que na verdade seria o paradigma que Sampaio Bruno procurava
alcançar, nós, na referida obra procuramos desenvolver uma nova ideologia
cívico/laboral e económica e a essa mesma ideologia foi dado o nome de
“Doutrina da Cidadania Social”.
No plano esotérico veremos que a histórica “esfera
armilar” portuguesa é um símbolo por excelência da ciência com raízes
herméticas que possibilitou a realização do Projeto dos Descobrimentos
Portugueses e esta ciência a par do Culto do Espírito Santo terão sido as duas
vertentes harmonizadas que estavam de acordo com a ciência global postulada
pelos grandes filósofos teosóficos do Renascimento, como por exemplo Giordano
Bruno que iria exercer uma importante influência no pensamento de Sampaio Bruno
tendo este encontrado no espiritualismo esotérico e no método científico quando
aplicados ao estudo da natureza humana estariam de acordo com um novo paradigma
que agora no Século XXI poderá vir na realidade a ser feito na base do binómio
corpo/espírito, o que nos poderia conduzir a uma verdadeira pista para a
explicação da nossa realidade como seres vivos e o porquê da existência do
próprio Universo!
Jacinto
Alves
Jacinto Alves - bancário na situação de reformado,
escritor e ensaísta, autor dos livros: - “Operação: Quinto Império – 2010 –
Editora Ecopy; “Ensaio Sobre a Doutrina do Quinto Império – Uma Nova Perspetiva
Social –
2013 – Chiado
Editora. Em preparação o romance iniciático intitulado: - “Os Arquitetos do
Universo – História do Homem Futuro.
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