sábado, 14 de março de 2015

UM CONTRIBUTO PARA UMA DOUTRINA DE CIDADANIA SOCIAL PARA PORTUGAL

 UM CONTRIBUTO PARA UMA DOUTRINA DE CIDADANIA SOCIAL

                                              PARA   PORTUGAL


Sampaio Bruno foi sem dúvida um notável e singular pensador português. A sua obra não se limitou ao campo da filosofia, da literatura ou da história, tendo dominado todas essas importantes áreas do pensamento humano, mas com a particularidade em não se ter prendido em nenhuma! A sua meditação constituiu sempre uma tentativa libertária de saber místico, alicerçado em fontes gnósticas e da Cabala especulativa. Por outro lado, a obra do eminente pensador reflete um momento histórico particularmente rico da história portuguesa o da propaganda republicana e da instauração da República que Sampaio Bruno saudou entusiasticamente no início, tendo-se vindo a desiludir posteriormente face a diversas ocorrências verificadas nas novas instituições que vieram a substituir a gasta monarquia lusitana.

Perante um absolutismo monárquico.

Este ilustre português cresceu num meio dominado pelas ideias liberais. A cidade do Porto sempre se singularizou pela sua forte empatia pelo Liberalismo e daí a razão da malograda“ Revolta Republicana de 31 Janeiro de 1891” tendo Sampaio Bruno nela participado e se viesse a viver agora no Século XXI e face a um Portugal e a uma União Europeia neoliberais não teríamos quaisquer dúvidas que perante este mesmo neoliberalismo Sampaio Bruno compreenderia de imediato que o seu liberalismo totalmente virado para o  bem estar e progresso sociais do ser humano, agora, no Século XXI transformou-se em algo desumano e apenas virado para a obtenção do lucro fácil, imediato e voraz não viria a hesitar em bater-se por uma nova doutrina política que efetivamente defendesse o cidadão comum! Sampaio Bruno diz-nos que nos momentos de crise nacional as elites culpam o povo, mas as culpadas são elas por não terem inculcado naquele um processo pedagógico que hoje chamaríamos de “educação para a cidadania”. Sampaio Bruno igualmente escreveu:- “ Portugal sofre de um excesso de governo por persistir um tipo de centralismo de governação que de forma centrípeta suga a vida social e a atividade política da nação e entrega o poder não aos mais aptos, mas aos mais inescrupulosos e oportunistas”. Infelizmente esta é a triste realidade no Portugal de hoje!

A Metafísica não está ultrapassada pela Ciência.

 Numa outra perspetiva Sampaio Bruno afirmou que a metafísica não estava ultrapassada pela ciência e a metafísica por si defendida devia de ser moderna mantendo um diálogo constante com a ciência. Sampaio Bruno na verdade veio a converter-se ao evolucionismo espiritualista de inspiração gnóstica e cabalística e agora no Século XXI podemos estar em condições de fazer uma nova interpretação de forma racional e científica sobre o pensamento bruniano na projeção de um novo paradigma que pela sua configuração nos poderá conduzir ao conhecimento da existência da vida espiritual materializada pelo princípio das vidas sucessivas ou reencarnações ou seja: no plano físico a transformação da matéria (corpo) e no plano metafísico a evolução da Força (espírito) e eis pois, o novo paradigma científico/espiritual que Sampaio Bruno concepcionalmente pretenderia vislumbrar”
  
 O pensamento bruniano seguia “Ipso facto” as diferentes correntes compreendidas pelo positivismo de Auguste Comte; o evolucionismo de Herbert Spencer e o economismo de Karl Marx. Sampaio Bruno não refuta o positivismo, corrige a lei dos três estados de Comte e aceitando a classificação das ciências; não rejeita nem aplaude o marxismo, apresenta-o simplesmente, não deixando porém, de o analisar e de o aplicar no modo, exclusivamente economicista. O esquema traçado na respetiva obra, o “encoberto” é para Sampaio Bruno o “reino de Deus” por fim revelado na república dos homens, o que por vicissitude histórica a ideia do “encoberto” assumiu-se entre nós, portugueses, incorporada no anúncio do regresso do rei D. Sebastião que viria a estender pelo mundo o Reino já fundado por Cristo tal como pensou o nosso Padre António Vieira – a ideia do Quinto Império igualmente defendida por Fernando Pessoa e Agostinho da Silva!
 
O Paradigma Científico/Espiritual.

O paradigma idealista que Sampaio Bruno pretenderia defender foi uma manifestação única no pensamento filosófico português! E daí e agora no Século XXI esse mesmo pensamento ideológico poder ser interpretado em diferentes perspetivas, desdobramentos ou desenvolvimentos passando por princípios fundamentais sobre a realidade do Homem e do Universo! Tal como num passado histórico já distante se pensou na existência de um deus único e que está traduzido no monoteísmo. Agora e no presente também igualmente o conhecimento humano pode levar as novas sociedades a estabelecerem uma diferente e mais avançada plataforma de vivência e perspetivas sociais. Por outras palavras: - poderíamos admitir poder ser criada uma nova ideologia que viesse ao encontro da realidade material e espiritual da existência humana materializada numa única doutrina que seria efetivamente o binómio ciência/espiritualidade e que poderia vir a transformar-se num novo espiritualismo evolutivo, mas agora de base racional e científica que seria na sua essência profundo, vasto e eclético!

Sampaio Bruno e o Liberalismo.

Sampaio Bruno pretendia que a condução político/partidária em Portugal viesse a assumir novas formas de atuação, onde e em consonância com as condições estruturais e conjunturais de Portugal na sua época face a uma monarquia que fora absolutista e que apesar de passar a constitucionalista não deixou de ser inimiga do progresso social e económico, o que perante o olhar penetrante e profundo de Sampaio Bruno o Liberalismo assumia-se como a mais forte expressão da liberdade cívica do cidadão comum e daí o ter-se batido de forma enérgica e esforçada contra uma monarquia completamente ultrapassada!

O título desta minha intervenção que é precisamente “Sampaio Bruno e o Portugal de hoje” é tentar fazer uma ligação e consequentemente um desdobramento do pensamento bruniano à realidade atual de Portugal, situando as realidades sociais, económicas e políticas dos portugueses e adaptando-as a esse mesmo pensamento. Essas mesmas realidades passam principalmente pela análise histórica do sindicalismo; do cooperativismo; do municipalismo; pela ecologia e finalmente pela democracia direta ou participativa como sendo os futuros e necessários pilares para a formação de um novo tipo de sociedade onde o elemento humano será sempre o factor central e determinante.

O Sindicalismo Português é a via natural para o desenvolvimento do Cooperativismo.

Teremos de reconhecer de que o sindicalismo português no presente tem urgente necessidade em imprimir uma nova dinâmica face ao desenvolvimento social, político e económico dos tempos atuais e essa mesma dinâmica passa pela aplicação prática da doutrina cooperativista! Podemos afirmar que na realidade o verdadeiro motor da economia fundamenta-se no trabalho e ação do trabalhador que tem nas suas mãos o verdadeiro poder económico face à sua força de trabalho, ao seu conhecimento e experiência e daí a razão da necessidade imperiosa da sua reorganização emancipadora pela via do cooperativismo e que já liberto da “ganância do lucro” poderá o trabalhador vir a construir novas condições de vida, de progresso e de estabilidade e onde a economia social virá a ser uma sólida realidade!

Assim, o movimento sindicalista português deverá chamar a si uma inovadora estratégia criando as necessárias condições para uma mais completa formação pedagógica, técnica e tecnológica dando ao povo trabalhador a possibilidade de formar as suas próprias empresas cooperativas e daí conseguir-se a desejada independência, libertando-o definitivamente da exploração do capitalismo retrógrado e ganancioso! Eis, pois uma razão fundamental que justificará plenamente uma reformulação da própria Constituição da República Portuguesa introduzindo um novo regime político onde o sector privado deverá ser adaptado a uma real, coerente e objetiva economia social e desenvolvendo estrategicamente os setores cooperativo e público dotando-os com modelos mais adequados em favor de um verdadeiro e natural progresso e bem-estar sociais do Povo Português.

E aqui surge a necessidade da criação de um novo movimento cívico/laboral que aliado ao cooperativismo a que chamaríamos de Sindicalismo Cooperativo poderia ir ao encontro dos grandes problemas com que os trabalhadores em geral estão enfrentando no presente e com crescente agravamento quanto ao futuro!


É fascinante observar esse imenso laboratório que é o planeta Terra, onde uma infinidade de experiências vai sendo realizada a um nível simplesmente incrível! E todos esses múltiplos acontecimentos que se vão desenrolando no dia-a-dia ou a todos os instantes das nossas curtas vidas físicas!

 Atualmente na Europa está ocorrendo uma crescente desacreditação dos partidos políticos e simultaneamente a degradação desses mesmos partidos políticos e o exemplo flagrante disso situa-se na tremenda queda da antiga União Soviética e o estrondoso fracasso do Comunismo e se a queda do Comunismo foi má então a derrocada do Capitalismo será dramática perante uma onda infernal de fundamentalismos que estão afetando importantes regiões do planeta e que se vão infiltrando através de “quintas colunas” em diferentes países do Ocidente. O cidadão comum coletivamente representa muito mais de dois terços da população mundial e só um número muito restrito de indivíduos a nível planetário controlam, dominam e exploram em seu exclusivo proveito os recursos e energias da maioria dos países existentes no mundo. Eis, pois, urgente que os trabalhadores representados pelos seus Sindicatos se unam numa “frente comum” juntando a sua experiência e conhecimentos técnicos, criando novas estruturas sociais e fabris que façam frente à monstruosa máquina do neocapitalismo, defrontando-a com adequadas armas que os recursos materiais e o trabalho e engenho humanos unidos poderão desenvolver.

As diferentes fases da iniciação do ser humano.

Nada de novo foi inventado e o ser humano de forma sábia e consciente compreende e segue de forma racional e progressiva as lições e os exemplos extraordinários que a Natureza através das suas leis tem vindo a imprimir desde a formação do planeta e dessa mesma ação surgiu a manifestação multidiferenciada da vida orgânica e inorgânica na Terra. No caso específico do ser humano ao nascer neste mundo físico vai naturalmente ser submetido a uma iniciação adequada à sua formação e desenvolvimento estando sujeito às quatro fases vivenciais que compreendem em sentido evolutivo a infância; a juventude; a maturidade e finalmente a velhice, o que surpreendentemente poderemos comparar na respetiva ordem natural à Primavera; ao Verão; ao Outono e ao Inverno!

Todas as fases de iniciação por que passam os seres humanos compreendem sempre a sua formação e desenvolvimento físico psíquico e espiritual. Na realidade e no que se refere a uma possível e nova figura institucional do partido político poderemos igualmente considerar que o respetivo militante terá de passar sempre por uma fase de iniciação de ordem cívica, política e de militância e assim no campo cívico/moral o iniciado militante deve assimilar e praticar os quatro princípios da sua iniciação que é a Sobriedade; a Solidariedade; a Cooperação e finalmente a Espiritualidade, sendo este último princípio correspondente ao Inverno da vida do ser humano – estação da vida onde aquele atinge a plenitude do seu desenvolvimento intelectual e espiritual. Eis, pois uma boa conclusão ao seguirmos o exemplo da Mãe Natureza, aplicando a mesma orientação seguida por aquela num novo modelo ou figura institucional de um novo partido político, inspirado na História, Cultura do respetivo país e inspirando-se no caso de Portugal na sua histórica e nobre Ordem Religiosa Militar de Cristo, restaurando o seu espírito e insuflando-o nas mentes dos jovens portugueses, desenvolvendo o seu amor-pátrio e mobilizando-os numa causa superior da Nação!

A Nova Doutrina do Quinto Império.

A nova doutrina do “Quinto Império” que propomos no nosso livro – “Ensaio Sobre a Doutrina do Quinto Império – Uma Nova Perspetiva Social”, assenta no binómio ciência/espiritualidade e dentro deste mesmo “binómio” que na verdade seria o paradigma que Sampaio Bruno procurava alcançar, nós, na referida obra procuramos desenvolver uma nova ideologia cívico/laboral e económica e a essa mesma ideologia foi dado o nome de “Doutrina da Cidadania Social”.

No plano esotérico veremos que a histórica “esfera armilar” portuguesa é um símbolo por excelência da ciência com raízes herméticas que possibilitou a realização do Projeto dos Descobrimentos Portugueses e esta ciência a par do Culto do Espírito Santo terão sido as duas vertentes harmonizadas que estavam de acordo com a ciência global postulada pelos grandes filósofos teosóficos do Renascimento, como por exemplo Giordano Bruno que iria exercer uma importante influência no pensamento de Sampaio Bruno tendo este encontrado no espiritualismo esotérico e no método científico quando aplicados ao estudo da natureza humana estariam de acordo com um novo paradigma que agora no Século XXI poderá vir na realidade a ser feito na base do binómio corpo/espírito, o que nos poderia conduzir a uma verdadeira pista para a explicação da nossa realidade como seres vivos e o porquê da existência do próprio Universo!

                                                                                                                   Jacinto Alves

Jacinto Alves - bancário na situação de reformado, escritor e ensaísta, autor dos livros: - “Operação: Quinto Império – 2010 – Editora Ecopy; “Ensaio Sobre a Doutrina do Quinto Império – Uma Nova Perspetiva Social –
 2013 – Chiado Editora. Em preparação o romance iniciático intitulado: - “Os Arquitetos do Universo – História do Homem Futuro.
 





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